“Voltei! Aqui é meu lugar! (...) Eu voltei para ficar!!!”



Aeroporto do Galeão  -  10 de outubro de 2006.  Muita  gente  apressada,  andando pra lá e pra cá.  A voz  suave  no alto-falante  anunciava  os  voos que chegavam  e  partiam. Tudo previsível,  na mais  perfeita  normalidade  –  um dia, enfim, como outro qualquer.   Para muitos, com certeza,  não para  mim!  Esperei  trinta e um anos  para  saborear  aquela  sensação  incrível  de  que estava chegando ao Rio, como em  muitas  outras viagens, mas  com  uma grande e inacreditável  diferença:  agora  era  para  ficar,  voltar  a  morar  nesta  minha Cidade Maravilhosa,  até quando  não sei , até  sempre,  até  quando  Ele me chamar  para o andar de cima, destino  inexorável de todos nós ...

Sempre  amei  demais  o  Rio,  minha cidade natal, a terra da minha infância e adolescência, dos meus pais vivos,  do dia a dia feliz com meus irmãos, primos, tios e tantos personagens queridos que marcaram  a  minha  formação de menina do Méier, com as melhores características da classe média dos subúrbios cariocas – gente simples, educada, esclarecida e decente.

A  vida, porém,  reserva  surpresas ( às vezes muito legais até! ) .   E  eis  que, “de repente, não mais que de  repente”, ela me  jogou  nas  águas  de  um outro  rio – o Capibaribe.  E assim vivi e fui muito feliz no Recife, também.  Novos costumes,  novos e grandes amigos,  culinária  maravilhosa,  praias fantásticas,  novos sotaques – sem dúvida, devo ao Recife e aos recifenses três  décadas  excelentes da minha vida e sempre estarei por lá!

Entretanto... As  lembranças do Rio  sempre doeram  demais  em  mim,  lembrança de tudo, de todos,  dos  lugares da minha terra,  do Méier,  daquelas  ruas  onde eu caminhava com os meus pais ( meu  pai  adorava  sair  abraçado  comigo pelo bairro,  e o mesmo orgulho eu sentia dele!).

Pessoas  há que consideram  uma  insensatez alguém querer  voltar  a  morar aqui no Rio, com toda a violência que tomou conta da nossa linda cidade. Realmente, o nosso Rio ainda está muito doentinho  mesmo,  mas quem deixa de amar  alguém  por  estar  doente?!

Sei que o Rio maravilhoso da minha infância não existe mais. Acontece que eu sou carioca, com  muito orgulho,  e amarei sempre apaixonadamente esta cidade.  Acredito nela. Sei que ela pode voltar  a  ser  aquela cidade linda e acolhedora  que  os  cariocas de nascimento e  o  Brasil  inteiro (carioca de coração) amam – a eterna e charmosa Cidade Maravilhosa, e capital honorária do nosso país! 



“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do Alto” (Carta de São Tiago)

1961 – Méier, Rio de Janeiro.

Uma adolescente de quinze anos, muito alegre e cheia de amigos, concluía o Curso Ginasial (hoje Ensino Fundamental) em um colégio estadual e era preciso escolher, entre as opções disponíveis em escolas públicas - sua única chance de continuar a estudar -, qual seria a sua próxima escola, para fazer o 2º Grau (hoje Ensino Médio).  E aí começou a dúvida: estudar para qual profissão? Ela não tinha a menor ideia, mas era preciso resolver – a concorrência era enorme para as excelentes escolas públicas da época e os cursinhos preparatórios para os concursos já iam começar.

  E aí, Soninha, o que você vai fazer?! Sei lá... Ah! Já sei: vou fazer o que as minhas amigas fizerem! E, como todas queriam ser professoras primárias, eu fui na onda – uma autêntica “maria vai com as outras”! Que loucura escolher ser professora de crianças desse jeito, sem nenhuma vocação! Não fui aquela menina que passou a infância brincando de ser professora, como as minhas amigas. Não, minha chegada ao Magistério foi exatamente assim, da forma mais desastrosa, caindo de um paraquedas que parecia travado, fadado ao insucesso.

Poucos anos depois, porém, continuando a estudar (sempre gostei muito de estudar!), concluí o curso de Língua Portuguesa e comecei a dar aula para jovens. Aí, sim, aquele paraquedas pousou suave e acertadamente, atendendo ao irresistível chamado de Deus, naquela que seria a minha real VOCAÇÃO – ensinar os jovens a ler, escrever e amar o nosso belo idioma. Principalmente, a serem mais felizes em todos os aspectos de suas vidas, por se comunicarem mais corretamente e melhor.
Assim, exerci, com verdadeira paixão, durante cerca de quarenta anos, a profissão de professora de Português para jovens e tive o privilégio raríssimo de descobrir o papel que me cabe na sociedade, para que vim a este mundo.

E continuo, na flor dos meus sessenta e sete anos, descobrindo mais e mais formas de exercer o meu papel. Exatamente por isso aqui estou!!! Já aposentada das salas de aula, sem a juventude e a saúde daquela menina de quinze anos, mas sempre com muito entusiasmo pelo contato com os jovens e pelo desejo de lhes transmitir o gosto pelo estudo e a certeza de que, com muita FÉ em Deus e ATRAVÉS DO ESTUDO, SEMPRE, podemos conquistar e exercer a profissão com que sonhamos, descobrindo nosso papel no mundo, ajudando outros a serem felizes por descobrirem também para que vieram a este mundo.

Este é o segredo da felicidade - SER FELIZ COM A FELICIDADE DO PRÓXIMO -  que todos podemos conquistar com muito estudo, com a busca e a descoberta da profissão da nossa vida e, acima de tudo, com a certeza de que nada seríamos sem os dons ofertados por Deus a cada um de nós, que só precisamos ter FÉ e CORAGEM  para frutificá-los!



“Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim...”

Pai, painho, meu velho, coroa... ou simplesmente PAPAI, que é como a maioria de nós um dia, pequenininhos, aprendemos a chamar aquele homem grande demais para nós, com a voz grossa demais, às vezes com cara de brabo, e que só chegava de noite, cansado de lutar pelo pão nosso de cada dia... Tão cansado que nem brincava com a gente, ou não tinha muito jeito ou chegava tão tarde que já pegava a gente dormindo.

 Seu jeito meio sem jeito, entretanto, dizia tudo – ele já nos amava demais!

 Nosso amor não foi à primeira vista não, como a nossa mãe, com quem já tínhamos estado juntinhos meses antes de nascer. Ninguém precisou nos apresentar a ela, mas Deus e o tempo nos apresentaram a ele e logo sentimos a magia que nos ligava àquele homem, que não tinha nada de estranho ou de brabo. E seria, sim, importante demais na nossa vida para sempre – o nosso pai, a outra metade maravilhosa que nos completa!

 O tempo passou e evoluímos em nossa percepção de tudo e de todos à nossa volta, sobretudo aprendemos a valorizar mais e mais nossa mãe e nosso pai - os que foram o alicerce de tudo o que somos hoje, e nos ensinaram, com seu amor e exemplo de vida, os valores cristãos e éticos que construíram, dia a dia, ano após ano, as pessoas de bem em que nos tornamos. Se não aprendemos direitinho esta lição fantástica , não foi por falta de excelentes professores...

 E à medida que amadurecemos, a figura do pai se torna cada vez mais forte e essencial em nossa vida. Mesmo velhinho, doente e frágil, ele será sempre, neste mundo ou no “andar de cima”, o nosso porto seguro, em que poderemos ancorar sempre que nosso mar estiver revolto.

 Com extrema emoção, portanto, nossa homenagem e profundo amor e respeito a este ser maravilhoso, incrível, com que o Senhor nos presenteou  -  NOSSO PAI !!!



“Ela é o tesouro que o pobre das mãos do Senhor recebeu”

Em todas as relações humanas, sabemos que existe troca ou acordo tácito entre as partes, nada é gratuito: há sempre um interesse mútuo, um mérito e uma recompensa, ainda que este interesse seja apenas a troca de amor e de amizade. Uma relação, entretanto, de tão bela, profunda e especial em nossa vida, é só gratuidade, dádiva – autêntica parceria com Deus.  

O rico pode comprar os bens que desejar, e o pobre? O inteligente pode compreender e incorporar à sua vida toda a riqueza cultural do mundo, e o tolo? O sadio pode usufruir plenamente de todas as maravilhas que a vida oferece, e o doente? O feliz ri muito e espalha alegria por onde passa, e o infeliz?

Que seria, então, do pobre, do tolo, do doente, do infeliz e de tantos que sofrem por esse mundo afora? Seria bem mais difícil para eles trilhar o caminho de suas vidas, com certeza! Seria...

Aquele lá de cima, porém, em sua infinita misericórdia, nos deu e dará a todos, sem distinção alguma, um tesouro magnífico, o maior e mais valioso de todos os prêmios – a NOSSA MÃE!

E este presente que Deus nos deu é, na verdade, um pacote completo, que inclui tudo e mais alguma coisa - com ela ganhamos a amiga, a professora, a psicóloga, a advogada (e que advogada de defesa!), a médica, a enfermeira, o ombro amigo para todas as lágrimas, a confidente, o quebra-galho perfeito, enfim! E melhor ainda: com atendimento gratuito por vinte e quatro horas!

O amor de mãe é Amor, assim com A maiúsculo, de substantivo próprio, único, inigualável. Só comparável ao Amor de Deus por todos nós – incondicional. Sejamos bons ou maus, mereçamos ou não, nossa mãe nos amará e estará (aqui ou lá no Céu) de pé, na primeira fila, torcendo por nós, sempre! Quando ouvirmos “Já ganhou! Já ganhou!”, é ela, com certeza, vibrando de onde estiver!
A todas as mães, portanto, minha homenagem, eterna gratidão e toda a reverência que uma rainha merece! E ainda é muito pouco!!!


“ - No fundo, ele era um bom menino! ”
        ( Palavras da mãe de um assassino frio e cruel, morto por policiais )

Palavras o vento leva? Nem sempre...

Com o passar dos meus anos de vida (e já não são poucos), tenho me tornado  uma autêntica esponja. Nada que possa render algum ensinamento me escapa, por menor que seja – um comentário, uma frase, uma palavra. Descobri em mim verdadeiro fascínio por certos pensamentos de pessoas incríveis. São palavras que tenho lido, ouvido e anotado, de pessoas as mais diversas em nível sociocultural.

 Quando temos olhos para ver e ouvidos para ouvir, e principalmente tempo para aprender com as ideias dos outros, é impressionante como constatamos que, paralelamente aos grandes filósofos e literatos de indiscutível valor, gente simples deste nosso povo sofrido também tem muito o que dizer e o que ensinar. Basta prestar atenção.

 São tantas as ideias e palavras interessantíssimas que tenho encontrado por aí que resolvi anotá-las (É isso – voltei à adolescência, com caderninho e tudo!). E descobri que, como diria o saudoso personagem Seu Ladir, caderninho de pensamentos é “mara”!

 Tenho registrados, nos meus alfarrábios (essa veio do fundo do baú!), pensamentos de técnico de futebol, do grande poeta irlandês Oscar Wilde, de uma ex-BBB, de estilista francês, de filósofos e escritores renomados de todas as épocas e de muitos outros anônimos, como a minha cabeleireira, por exemplo.  Enfim, tenho me deliciado, há alguns anos, organizando uma autêntica coletânea particular de ideias instigantes, sublimes, profundas, perturbadoras, até mesmo impublicáveis, e também divertidas de grandes pensadores, com quem tenho aprendido muito desta arte bela, e muitas vezes dificílima, que é Conviver – assim mesmo, com C maiúsculo!

 Um dia, quem sabe, ainda publico tudo o que tenho garimpado por aí, talvez como Pensamentos Incríveis by Sônia Mawad. Só para distrair ou chatear os amigos...

 A propósito, li certa vez uma entrevista superinteressante, em que a entrevistada – uma mulher bastante influente na nossa sociedade -, ao lhe perguntarem em que profissão gostaria de atuar, respondeu que seria professora de Português, para ensinar as pessoas a expressar adequadamente suas ideias e sentimentos e, assim, serem mais felizes por estarem aptas a relações humanas mais civilizadas do que as que temos visto por aí, muitas vezes, em que algumas pessoas gritam, agridem-se, abdicando do poder e da eficácia deste grande luxo da espécie humana – a palavra como expressão do pensamento!

 Como professora de Português, com décadas de militância apaixonada, faço minhas as palavras acima. Já terminei muitas conversas por escrito: às vezes, ao sabor da emoção, a gente se exaspera e acaba falando o que não queria, ou melhor, o que queria falar exatamente, mas não devia. E aí, o papel acaba sendo um grande conselheiro, pois reconsideramos os excessos, deletamos as palavras dolorosamente verdadeiras e dizemos, enfim, o que pode ser dito. Jamais abdicarei, portanto, do privilégio humano de usar palavras, de expressar minhas ideias e ouvir e respeitar as das outras pessoas. Jamais deixarei de proclamar este meu amor roxo às palavras! 

 É como muitas vezes brinquei com meus jovens alunos: a verdade é que sou casada com um árabe, mas sou louca pelo Português!  Mas não espalhem...

Uma ilustração apenas:

“Chorava porque não tinha sapatos, até que vi um homem que não tinha pés.”
(Machado de Assis)

A vitória do amor

Ele não queria filhos e ela nasceu para ser mãe. Ambos descobriram que não podiam gerar filhos, mas isso não foi empecilho para ela. Afinal, para que servem os avanços da Medicina? Tantas mulheres hoje abrigam em seu útero embriões que não são originalmente seus, mas que se desenvolvem em seu ventre, e dão à luz bebês maravilhosos... Por que também ela não podia ter o seu bebê?!

O impasse estava declarado e a discórdia instalada na vida daquele casal quase perfeito. “E agora, José”? Abrir mão do sonho de ser mãe, em favor do casamento com o homem amado ou perseguir o seu sonho e realizá-lo a qualquer custo? Acertou quem marcou a segunda alternativa. Ela optou por ter o seu bebê!

Coisas da vida, ou melhor, de novela – a arte imitando a vida em todos os seus dramas. E a telinha muitas vezes nos brinda com situações e cenas memoráveis, emocionantes mesmo, tal a sua identificação com a vida real, marcada por tantas histórias de desamor e violência, mas também por belos e nobres sentimentos.

Ela teve o seu bebê, uma menininha encantadora. E ele foi embora, coração partido, certo de que queria a mulher amada, não queria filhos, e não tinha nada a ver com aquela criança. Não a amaria jamais!!! Certezas demais para um frágil ser humano, que ainda não conhecia a força poderosa de uma criancinha...

Ele bem que tentou fugir, como tentamos todos nós quando encurralados pelo amor. Não deu! Voltou correndo ao primeiro sinal de que elas corriam risco e precisavam dele. Ele já amava demais aquela menininha, mas ainda não sabia. Já não resistia ao seu sorrisinho lindo e inocente, absolutamente alheio às maldades deste mundo.

Esta e outras belas histórias que evidenciam a vitória do amor sobre o ser humano, sobretudo em situações-limite, mostram que o homem é naturalmente bom, amoroso, solidário e amigo. As frustrações e o sofrimento o tornam aparentemente insensível e até mau. Mas o amor, se é verdadeiro, sempre vence. Felizmente!

“ Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus.”
( Jesus Cristo )

“Este é o meu número! Ih!não é não! É sim!!!”

Que maluquice é essa? – quase todos nos perguntaríamos. E alguém, bem mais sábio e graduado em certas artes pra lá de complicadas, responderia com toda a convicção:  isto é o amor, o tão sonhado amor!

Mas como, desse jeito maluco assim: é/não é, é/ não é?

É, exatamente assim!

  Depois de muitos encontros e desencontros pela vida afora, inebriantes ou decepcionantes, chega para quase todos o momento do encontro esperado com aquele ser especial que faz o outro concluir, em verdadeiro estado de graça:  este é o meu número! Estava reservado pra mim e, daqui pra frente, só alegria e felicidade...

Como bem sabemos, entretanto, não é bem assim que a banda toca e todo ser especial, antes de ser tão especial, é humano, igual a tantos outros, talvez um pouquinho melhor, o suficiente para o outro acreditar que ganhou a mega-sena sozinho, ao conhecer aquela joia rara.

 O  tempo (remédio ou desgraça para tudo) encarrega-se então de revelar o que todos são. E o céu de brigadeiro começa a prenunciar nuvens traiçoeiras, que logo serão tempestades, desentendimentos e muito desencanto. O apaixonado, sempre precipitado, concluirá imediatamente: ih! Este não é o meu número, não ...

 Mas o mesmo tempo - agora remédio - guarda diversas cartas na manga,  lições  preciosas que é preciso aprender quando se deseja salvar o amor, se este de fato existe ali. Por exemplo: o ser ideal, sem defeitos, não existe e trocar de amor é trocar de defeitos; o importante é saber se os defeitos deste são toleráveis e se o amor os supera.

 E, assim, concluir com entusiasmo: é, sim, este é o meu número!

 Afinal, amor-perfeito, só aquela florzinha, bebê...

“Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?”

(Luiz Vaz de Camões)




“Portugueis nóis sabe...”

Entre os incontáveis absurdos que nós, pobres cidadãos desta nossa Pátria Amada, temos sido obrigados a assistir recentemente, está o espetáculo maior da irresponsabilidade cultural deste país: o Ministério da Educação e Cultura autorizou a distribuição, na rede pública de ensino, de livros didáticos com erros crassos de grafia e gramática!  E não para por aí – para quem pensava que eram falhas de digitação ou revisão malfeita, autoridades (ou serão “otoridades”?!) do MEC, prontamente, e em horário nobre da televisão, esclareceram à nossa população que, na frase “Nós pesca os peixe”, presente em um dos livros do MEC, não havia erro algum, e mais, não existe erro em nada que o aluno escreva supostamente errado – o que há é uma “linguagem inadequada” e o aluno não poderá ser constrangido porque cometeu um erro na escrita. Assim, não seria democrático não aceitar que existem outros níveis de fala e escrita.

Sem dúvida, esse discurso é aceitável como tema de pesquisa e debate em  âmbito acadêmico, em que muitos e sérios estudiosos da Língua, entendendo-a como organismo vivo e bastante variável em seus muitos níveis de fala e escrita, não consideram erro grave pequenos deslizes quanto à norma culta da Língua, classificando-os tão-somente como características da linguagem de determinado grupo social e que merecem ser compreendidas e aceitas. O professor e Mestre Evanildo Bechara, membro convidado da Academia Brasileira de Letras e autoridade máxima, hoje, em Língua Portuguesa, no Brasil, e de quem tive a honra de ter sido aluna, defende que “falar bem é ser poliglota dentro de sua própria língua”, ou seja, a língua é como uma vestimenta que precisamos saber usar de acordo com o ambiente que frequentamos.

O que é inaceitável para as pessoas de bom senso deste país é a divulgação e adoção absolutamente irresponsáveis, para toda a população, “democraticamente”, de estudos linguísticos ainda extremamente polêmicos e que deveriam estar restritos às altas rodas acadêmicas.

O efeito deste “liberou geral”, deste “vale-tudo” no uso da  Língua (que é como os estudantes e a nossa imensa população carente de estudo estão percebendo essas inovações) é desastroso e bastante previsível: os concursos públicos e o mercado de trabalho, em sua seleção dos melhores, rejeitarão, com certeza, aqueles candidatos incautos, que acreditaram que podiam falar e escrever a seu bel-prazer.

Ganha um doce, portanto, quem adivinhar qual camada da população brasileira será novamente a mais prejudicada em sua ascensão sociocultural...



Alguém viu o bom senso por aí?

Não costumo me escandalizar facilmente com comportamentos ultramodernos. Algumas vezes, entretanto, a novidade é tão “barra-pesada” que o impacto é forte demais! 

 Ainda assim, estremecendo nas bases, procuro sacudir a poeira dos conceitos ultrapassados, balanço, mas não caio. É sempre importante nos atualizarmos e acompanharmos a evolução dos costumes e comportamentos da sociedade. “Quem não acompanha o progresso é arrastado por ele”, alguém já disse com muita propriedade. Com certeza, é muito mais digno e elegante caminhar com as próprias pernas (e nós, mulheres, de preferência com um salto bem alto e bem chique).

 Há posturas e comportamentos, porém, contra os quais é preciso reagir radicalmente - a ausência total de bom senso em uma parcela da sociedade, hoje, tem sido responsável por transformar alguns grupos sociais em imensos rebanhos. E aqui não vai nenhum exagero! Essas pessoas aderem a qualquer novidade dos meios de comunicação, e vão atrás dela, sem se perguntarem o que é aquilo, a que leva e se vale a pena adotar tal novidade. Se todos estão pensando e agindo de determinada maneira, “deve” ser bom.  Refletir pra quê?  Vamos nessa!

 E assim caminha esta parcela da sociedade, mais atordoada e perdida do que cego em tiroteio, sobretudo no que concerne aos princípios e atitudes morais em um mundo marcado pelo relativismo exacerbado e quase sempre bastante equivocado. Se, antes, tudo era condenável e a sociedade vivia oprimida por padrões de conduta excessivamente rígidos e até injustos com os anseios do ser humano, hoje tudo (ou quase tudo) é compreendido e aceito, mesmo os maiores absurdos, pois “cada caso é um caso e tudo é muito relativo”...

 Sem dúvida, esse relativismo desmedido, que tem conquistado multidões de adeptos, vem  esgarçando cada vez mais o tecido moral da sociedade, já tão desgastado.  Recentemente, ouvi um relato deprimente de uma dessas ''celebridades de quinze minutos de fama”, e que estava fazendo o maior sucesso num vídeo sobre sua vida íntima, na internet: uma senhora, ao reconhecê-la em um “shopping”, abordou-a chorando emocionadíssima, dizendo que a amava e a admirava muito.  Alguém, ao meu lado, questionou: será que a tal senhora disse isso mesmo?! 

 O pior é que disse!!! Com certeza, essa senhora não sentiria nenhuma emoção diante de um grande médico, um grande arquiteto, uma grande atriz ou outro profissional realmente valioso. Pobre dessa camada da nossa população, alimentada diariamente e durante anos por estas babás irresponsáveis, que são a maioria dos programas da televisão brasileira, abastecida de toda sorte de futilidades e completamente desnutrida de elementos essenciais ao desenvolvimento pleno do ser humano – a educação, a cultura e o bom senso, que advém de ambas.    

 Quem sabe, um dia, essas fãzocas tolas de falsas celebridades consigam perceber que, infinitamente mais grave do que qualquer erro (que pode ser corrigido e eliminado), é não ter o bom senso de percebê-lo, é banalizá-lo e até aplaudi-lo.  

 Enfim, aí está o que fizeram com a formação dos valores morais e culturais da nossa gente tão boa: toda a bobagem do mundo se concentrou em muitos brasileiros, que, com honrosas exceções (felizmente!), só dão valor ao que não tem valor algum, mantendo-se quase sempre na contramão do que é ser realmente moderno e evoluído. 

            Mas a gente chega lá! Ou não (como diria Caetano Veloso)...





O perigoso charme do Mal

“Meu doce, só uma perguntinha: o seu cabelo tem licença para andar armado?!”
“Não vim para agradar! (Ainda bem, criatura, senão teria perdido a viagem, viu?!)”
“Pelas contas do Rosário, só posso ter salgado a Santa Ceia!”

Engraçadas essas e outras falas de tanto sucesso na TV, não é?!

Com certeza, muito divertidas, porém impregnadas “divertidamente” de toda a perversidade de um “personagem do mal” ( como dizem as crianças). Todos sabemos disso e nos divertimos demais, absolutamente tranquilos e certos de que é só uma brincadeirinha... 

E é uma brincadeirinha sim, bastante engraçada, até inofensiva! Mas não é pra qualquer um, é pra quem tem senso crítico suficiente para perceber que o mal muitas vezes aparece travestido de beleza, elegância e um charme simplesmente irresistível. Foi o tempo em que o mal tinha cara de mal, com aspecto horripilante, monstruoso, e era percebido a distância. Tão charmoso e envolvente torna-se o mal na mídia, por exemplo, que esconde sentimentos e atitudes inaceitáveis, pois degradam e humilham impiedosamente nossos semelhantes com comentários ofensivos e preconceituosos.

O próprio conceito de mal e de erro vem mudando bastante nas últimas décadas: na verdade, até esses conceitos dependem do contexto em que estão inseridos e principalmente dos personagens (leia-se atores) que os apresentam, brilhantemente, em textos cada vez mais criativos e interessantes.    
Como ficarão entre as crianças e os adolescentes de hoje a consciência e a prática do respeito ao outro e a compaixão por suas dificuldades - valores essenciais à vida em família e em sociedade?

Vivemos tempos bem difíceis, em que o excessivo relativismo (em que tudo pode ser aceito) e a superelástica tolerância moral de grande parte das pessoas na sociedade têm-nos levado a patamares inimagináveis da imoralidade humana. Imoralidade sim, pois o que fere conscientemente a moral, é imoral sim, é “do mal”, mesmo que seja divertido, superinteressante e perigosamente charmoso!