Jesus, me abana!

É muito estranho, e até engraçado mesmo, começar este texto com “Jesus, me abana”. Coitado de Jesus, não tem nada a ver com isso!

 Explico: como, para compositor, tudo dá samba, para mim, tudo dá texto. Essa frase-título, por exemplo, eu a ouvi de uma personagem de novela, que, apesar de não ser nada jovem, continuava bastante assanhada e toda vez que o chefe bonitão passava por perto, ela suspirava de uma forma superdivertida: Jesus, me abana!

 Cenas como essa e de outros arroubos juvenis, partindo de pessoas (sobretudo mulheres) menos jovens, costumam gerar críticas e comentários maliciosos de muitos que, na verdade, invejam a coragem dos que estão envelhecendo sem abdicar do direito de ser alegres e de continuar a falar aquelas bobagens que todos gostamos de falar e que nos deixam animados, rindo, felizes. Afinal, onde está escrito que envelhecer é entristecer, tornar-se circunspecto demais, comportado demais, crítico ferrenho da alegria dos mais corajosos, resumindo: um chato?

 Na Europa, é comum encontrar nos cafés e em todos os locais de entretenimento, grupos animados de mulheres e homens bem idosos, já aposentados e livres de compromissos com a formação dos filhos, divertindo-se com os amigos, fazendo lanches, tomando sorvetes, conversando e rindo alto, fazendo o que sempre fizeram, convictos de que envelhecer (se estamos saudáveis) é apenas ir ficando mais antigo, mas sendo os mesmos que sempre fomos, com a mesma personalidade e os mesmos gostos e prazeres que tínhamos quando jovens. Gente civilizada é outra coisa! É sabedoria pura!  Afinal, por que precisamos nos tornar, com o passar dos anos, companhias desagradáveis, ranzinzas, se não éramos assim?! 

 Por que não podemos também nós, nesta nossa sociedade dita tão moderna, tentarmos evoluir nesse aspecto? Por que não nos permitirmos e a todos continuar a ser alegres, leves e soltos até quando Ele determinar, só Ele? Para isso, precisamos aprender a ser mais generosos e a conceder a todos, começando por nós mesmos, o direito tão simples de apenas ser “coroas” alegres, engraçados, moleques (no melhor sentido), sem suscitar comentários maldosos de que tal comportamento ou opinião mais efusivos não ficam bem e são ridículos em pessoas menos jovens.

 A verdade é que, em qualquer idade, jamais seremos ridículos se primarmos sempre pelo bom senso em nossas palavras e atitudes, ainda que sejamos extremamente alegres e descontraídos.
 Fernando Pessoa já dizia: “Todas as cartas de amor são ridículas/ (...) Quem me dera o tempo em que eu escrevia cartas de amor ridículas...”

 Ridículo, convenhamos, é achar que alegria tem prazo de validade, é aposentar-se da vida, é abdicar da descontração e da saudável malícia de brincadeiras como sair por aí, com as amigas, admirando o belo e suspirando estas palavras um tanto ou quanto escandalosas, mas muito divertidas: “Jesus, me abana”!!!


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